Na cabeça o sucesso de hoje é um tapa na cara do eu de ontem. Conseguir fazer agora dói, pois mostra que era capaz e poderia ter feito antes. Nessa lógica, a melhor forma de se sentir menos mal com os fracassos de outrora é não obter sucesso hoje. Assim, a culpa deve ser do sistema, do universo, de ter se engajado em algo que é para si. Qualquer coisa pode ser culpada, menos suas escolhas.
Com isto se coloca em um lugar mental em que o fracasso é mais confortável que o sucesso, e se blinda do chicote do passado com o chicote do presente, que tem o peso de um momento e não de muitos anos. Quando se ver neste local é preciso prestar atenção em como o corpo reage, e aceitar que a mente tem esses gatilhos. Que do jeito dela tenta proteger. E é exatamente neste momento que é preciso ser lúcido, e lembrar que infinitos chicotes no presente doem mais que um pesado chicote do passado. E mais. Um segundo após uma nova chicotada masoquista do presente ela se soma ao chicote passado, que a cada momento fica mais grosso e mais pesado.
Quando lucidamente se ver nesta situação deve-se mentalizar o chicote futuro, e lembrar que este sim é o mais pesado de todos. A certeza da chicotada futura é o estado mental mais angustiante e imobilizante, a do passado é letra morta e a do presente é a que deve ser encarada. Em nome de um futuro sem chicotes é preciso aceitar as chicotadas do passado, e pensar na doce liberdade que somente existirá se conseguir domar o chicote presente.