Não é todo dia que se faz 40 anos. Mas na verdade, 40 é uma idade que se faz por muitos dias. É comum em aniversários de 35 anos muitos já se acharem mais pra lá do que pra cá, e sentirem um peso nas pernas e nos ombros que com certeza só podem ser culpa da eminente chegada dos 40. Alguns levam mais tempo no processo de transição. Outros chegam até aos 60 sem passar pelos quarenta. Mas um fato é inquestionável: o simbólico 40 se exibe e se insinua para todos.
Esse algarismo sisudo, com ângulos retos, sem curvas sinuosas como o 2 e o 3, representa muita coisa na vida de seres com dez dedos que utilizam números arábicos. Sua linhas duras lembram continuamente que o tempo é implacável, e instituem um senso de urgência quase automático. Ao mesmo tempo, sua falta de rebolado instaura uma espontânea maturidade, passando a certeza de que os tempo de molecagem acabaram e agora se tem experiência suficiente para viver a vida como ela é.
Alguém famoso já disse que a vida começa aos 40. Eu não seria dramático assim descartando de uma biografia toda a estrada que a trouxe até aqui, mas é inegável que se a vida não começa neste ponto, certamente nesta ocasião um novo volume da biografia é aberto, escrito com nova linha editorial e para um público bem distinto.
Ter quarenta é uma escolha de vida. É desapegar dos sonhos inacabados juvenis. É estimar mais qualidades que quantidades. É admirar a estética grisalha com orgulho. É eleger quando e com quem se embriagar. É ir para outro porto sem se ressentir pelo que fica para trás. É mudar a vida de rumo segura e sem mágoas. É ouvir Bob Dylan e saber responder como se sente uma pedra rolante, sozinha e desconhecida, sem possibilidades de retorno para casa. É saber responder afinal quem eu sou.
Aos quarenta entendemos que a vida faz sentido, e é muito mais simples do que os 20 alardeavam e muito menos angustiante do que os 30 bufavam. Do alto de sua sabedoria e vivência, um quarentão sabe que o segredo para uma vida bem-aventurada é brega e clichê: basta seguir seu coração e fazer coisas que o levem nessa direção. Com isso, aos quarenta não mais se comemora nos aniversários outro ano de vida completado, mas sim se celebra a serenidade contida na plácida confiança de saber que, dentre todos os lugares físicos e mentais do mundo, se está exatamente onde se gostaria de estar.